Borras de tinta, não é mais que borras de escrita inacabadas, por vezes impercetíveis, julgadas à interpretação de cada um....
Borras de tinta não é mais que um sussurro de palavras...
Borras de tinta é isto, são pedaços...
Amado, odiado e criticado por tantos. Aposto que já se fazem estudos sociais, psicológicos e outros acerca desta rede social que se tornou num gigante mundial. Engraçado, traz-me à memória personagens históricas, também elas muito interessantes.
Enfim, teorias, muitas teorias, mas também muita prática. Todos nós "facebookianos" colocamos em prática estas teorias que nem sempre se provam adequadas, corretas ou imparciais. Mas, também as haverá que não se desviam nem sequer um milímetro da realidade. Se bem que às vezes me pergunto o que será a realidade: será o palpável, o efémero, os diferentes pontos de vista, o científicamente comprovado? O que é certo é que ela se mistura com o virtual.
Vejo o facebook como uma balança que, a meu ver, pesa mais no seu lado negativo. Considere-se o lado negativo como: O bombardeamento do marketing a que se está sujeito tanto tempo quanto aquele a que se permanece na rede, e com ele toda a estratégia de manipulação a que estamos sujeitos, até mesmo de quem não é expert e que na maioria das vezes nem se apercebe que está a agir como um verdadeiro marketeer; O isolamento a que todos nos sujeitamos se não tivermos o devido cuidado; Maior individualidade, ainda que ironicamente, pertencendo a uma variedade de comunidades e grupos; A competição extrema entre empresas, pessoas e grupos, na sua maioria; As microcomunidades que se vão criando;
Todos estes pontos trazem sentimentos de recusa, inimizades e criação de grupos cada vez mais absorvidos na sua identidade particular. Contudo, o uso desta rede social também tem o outro lado da balança, também tem os seus aspetos positivos. Pensando nuns e noutros realisticamente o lado negativo com certeza teria um maior peso; Mas, e apesar de ser um pouco mais leve, o lado positivo pesa tanto ou mais pelo seu lado emocional. E que peso é este? É o peso do sentido de pertença, mas mais que isso é a sensação de estar a sós com a sua individualidade, ainda que partilhada com tantos.
Nenhum perfil é igual, porque apesar de virtual é criado pelo ser humano, com emoções, com sentimentos. É criado pelo ser humano, para o ser humano. E este ser, infinitamente insatisfeito, tem esta faculdade maravilhosa que se chama humanidade. Uns têm-na mais que outros, mas isto seria assunto para um livro (risos).
Pontos positivos: (Re) Aproxima pessoas que estão longe e não tem custos a não ser a mensalidade da Internet (que na maioria das vezes é o wi-fi do vizinho ou do café do lado); Mas, mais importante que tudo são as lembranças, as memórias, anos de partilhas, de gostos e desgostos, de likes e de silêncios incomodativos, de comentários, de votos de boas festas ou feliz aniversário; de vivências e experiências.
No entanto, estas lembranças não são individuais, porque envolvem outras lembranças, outras memórias de outras individualidades.
Quantas vezes queremos desistir e quase o fazemos, às vezes até o fazemos e muitas vezes regressamos, porque está lá a nossa impressão digital, está lá a nossa individualidade. Para os grandes, somos um número, para os maiores somos aquela pessoa, com aquelas características.
O uso do facebook possibilita-nos, ainda que não nos apercebamos de forma consciente, o estarmos frente a frente com o nosso eu, com a nossa evolução ao longo dos anos. Em que dias estávamos mais amargos ou mais doces; quando é que as amizades estavam prestes a deixarem de existir (sim, é possível haver amizades que não durem eternamente, mas que por terem existido tornam-nos nas pessoas que somos hoje); Mostra-nos quais os nossos maiores interesses. É como um diário digital, mas de acesso público, cujos pormenores fétidos só dizem respeito à consiência de cada um.
A rede social Facebook também torna-nos mais ativos na defesa de direitos, quer sejam humanos, ecológicos ou animais. Mas, também nos torna mais sedentários no que respeita à atividade física e intelectual. Aqui há de tudo um pouco, bom e mau. Há quem use para ser alguém que pensa não ser e há quem o use apenas para estar no seu mundo, mas perto do mundo do outro. Há quem o use para estar ausente e para estar presente. Pode-se até, imagine-se, ser livre: livre de selecionar e partilhar o que quiser, livre de estar sozinho com a sua individualidade - é diferente do que estar sozinho com o seu eu. Se se reparar com um pouquinho mais de atenção dir-se-ia até que o virtual mistura-se com o real. Porque também se cometem erros e os erros só acontecem, porque o indivíduo que tem perfil no facebook é o indivíduo que foi à aula às 08.30; Que foi trabalhar, querendo férias; Que alimentou os seus filhos, foi fazer jogging e depois levou-os à escola.
Mas, sim também existe vida para além do facebook, muito interessante até, uma das melhores que podem ser vividas. Há quanto tempo não está sozinho consigo mesmo, não só em silêncio externo, mas também no silêncio interno - vivemos num mundo que não nos permite pensar por nós, vivemos num turbilhão de emoções.....Oh Natureza que falta fazes.
Mas quão fictícia será esta rede? Se ao "eliminarmos" um amigo virtual, certo será que o estejamos a eliminar das nossas vidas, porque ele ressente-se. E, se não aceitarmos um pedido de amizade haverão, de certo, sentimentos menos bons, criados pela expetativa de quem faz o pedido. Mais uma vez digo, estas situações geram rancores e inimizades. E o que acontece quando eliminamos o nosso perfil? Um sentimento de perda, de falta de alguma coisa, um vazio difícil de preencher. Torna-se assim, aditivo, porque é todo um mundo de individualidade, o nosso mundo. É, por estas e outras razões (que nunca mais acabariam) que o facebook não é só uma rede social. Não se minimize o óbvio. Se está a ter sucesso, é porque veio preencher uma lacuna na vida pessoal de cada um. Ao eliminar um perfil é como deixar de existir virtualmente. Nós somos memória, porque também vivemos nas memórias virtuais e reais dos outros.
Sendo assim, ninguém tem o direito de aceder à nossa privacidade, porque é como perfurar o nosso Eu. Portanto, caro leitor, o facebook é o mundo dos Eus, onde só entra quem deixamos e criadas estas ligações é difícil deixá-las para trás. O meu conselho é que, se não tem perfil no facebook, nunca o tenha.
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